26 novembro, 2011

O espelho, os monstros e o príncipe!




Escrever tem sido na maior parte das vezes a companhia da minha solidão.
A possibilidade de escoltar a angústia que não se aquieta.

E olha, já desisti de querer ser menos intensa. Fazer o quê? Quando se chega próximo aos 38 anos ouvindo por anos a fio que se precisa ser menos exagerada, menos intensa, mais cautelosa e racional e, apesar de todos os cursos de PNL, imersões, religiões, terapias e vivências, a conduta persegue com o mesmo fundamento – ainda que com condutas diversas, talvez o caminho seja aceitar. Aceitar que não se pode querer a vida pela metade quando só o que contenta é a busca do inteiro; aceitar que não é possível ser conformada, quando só o que basta é buscar a consciência; aceitar que não se pode ser superficial, quando só o que basta é perseguir as respostas das entranhas...

E como dividir isso com o qualquer outro de qualquer relação, sem fazer dele um espelho que reflita sua própria projeção?...

Por isso, a companhia é a solidão. Porque a busca interna é solitária. Ainda que a vida boa te brinde com um amor, com as risadas dos filhos maravilhosos, uns bons parceiros de conversa, de mão dada, da cajuína pedida e em falta, mas que conforta a dor, a busca é só! Porque somente aqui dentro é que a ânsia de não bastar persiste, é na solidão da noite com a cabeça encostada no travesseiro é que se sabe a dor de não conseguir pertencer, de não conseguir adaptar, com os pensamentos vagando por lugares inimagináveis infectando o consciente que ainda está desperto, procurando avidamente o porquê de não confiar, o porquê de não conseguir se entregar. São nos pensamentos solitários que as decisões e consequências destas são duramente questionadas, e, mais ainda, severamente confrontadas na busca desenfreada de uma resposta que acolha o coração e que traga a tão falada maturidade, responsabilidade que te acalme e que faça tudo caber no seu devido lugar.

O solitário é quando não cabe. E tem tanta coisa à sua volta que bradar para o mundo que não cabe e pronto, vai representar a cessão aos instintos infantis e imaturos, de ingenuidade, de quem não cresce, e de novo, a necessidade de TER que CABER, TER que RESPONSABILIZAR, TER que AMADURECER.

Mas oras, quem inventou que para crescer e maturar precisa perder a graça? Quem conceituou que se responsabilizar precisa ter em seus sinônimos se conformar, se “acalmar”? É por isso que Peter Pan ficou na Terra do Nunca, e que Saint-Exupery não se tornou pintor!

Nos arroubos infantis que me tiram o sono, acompanhados pela minha solidão na busca das respostas que cheguem às entranhas e que mostrem sempre o mundo novo onde há sempre mais, também há responsabilidade. Sim, porque é preciso se responsabilizar para ter CORAGEM de olhar para si, de se desnudar para além do espelho, e enxergar nas dimensões que estão atrás da lente reta. Porque ali há mais que a imagem conhecida refletida. Ali há desejos, sombras, monstros, os lados que o eclipse comportamental sempre esconde. Mas e daí que há monstros? Eles são meus, e, afinal de contas, nem todos os monstros são maus. Estão aí o James P. Sullivan, o Mike Wazowski para mostrar que o riso dos monstros produzem muito mais energia que as caretas; e também o Edward Cullen, Jacob Black e Bella Swan para mostrar que o monstro também é bonito e que aceitar-se monstro pode nos levar a viver bem.

E que curioso ver que para aceitar-se monstro, primeiro é preciso sentar consigo à só. E, de novo, só!

Conheço uma pessoa muito querida que se sentou só numa sala, e ali esteve consigo, e revisitou as suas dores, os seus monstros tão intensos, que, assim como eu, somente a escrita foi testemunha. E doeu nela, e dói em mim. Mas ela não perdeu a graça... Ela compreendeu, e pode achar seu riso, seus fios, seus contos para que ali não lhe bastasse, mas lhe mostrasse mais, e conhecer mais e saber que há mais para conhecer, bastando-lhe finalmente entender que não haverá fim.

E conheço uma outra pessoa que sabia ali no íntimo que, enquanto não tivesse coragem de olhar que havia um monstro dentro de si, não poderia sentir a sensação livre do vento tocar-lhe o rosto. E essa pessoa, ao invés de um banco na sala, mergulhou em suas entranhas, e buscou no fundo do seu mais sombrio a luz que havia dentro de si. E sim, também teve dores, que são sentidas, vividas, e compensadas pelo fato de saber que ali dentro dela havia mais, não era só o que o espelho do quarto refletia.

E conheço ainda outra pessoa que estava feliz como vivia, mas tinha a nítida sensação de que havia algo dentro de si, para além da vida que ela carregava, que poderia libertá-la. E ela não sentou na sala, tampouco mergulhou em suas entranhas, ela libertou de seu ventre a CORAGEM de conhecer suas sombras internas, parir uma vida nova e uma nova vida dela. E teve dor sim. As físicas e as emocionais que a transformaram, que fizeram de seus monstros as luzes que iluminaram seu novo caminho.

E outra pessoa, sempre às voltas com a leitura, o compreender, mas com a constante sensação de que lhe faltava algo. Essa nem se sentou com seu monstro, porque sempre foi amiga deles. Essa permitiu a convivência de seus monstros com as alegrias das crianças que a vida lhe brindou, transformando seus conceitos, sabendo-se imperfeita e satisfeita com as incertezas de todos os dias que a vida tem, desde que vividas intensamente.

E falo aqui de uma última pessoa, especificamente, à qual eu tiro chapéu. Essa encarou os monstros de sua loucura, fechou-se num quarto com todos eles soltos ao mesmo tempo e os encarou: vamos nessa! “Já que vocês não me largam, fico aqui presa com vocês!!!”. Pois é, depois de brigarem um tanto no quarto, eles perceberam que tinham que caminhar juntos, e a vida dela se tornou mais inteira. Não sem dor, óbvio. Também não sem solidão, mas com a aceitação de que se pode ser intensa, inteira, com risos e choros.

E, assim como as pessoas que citei acima, conheço outras 23 pessoas que, como eu, cada uma a seu modo, se acompanham na solidão de entender que só se chega a anjo quem está com seu monstro, que caminha com ele, que entende a vida na intensidade, na graça de errar e acertar, na graça de não se conformar, de saber que o essencial é invisível aos olhos e que o que torna belo o deserto é que ele esconde um poço em algum lugar.

Por que, nos meus monstros também existe um Principezinho que diz: Mas os olhos são cegos. É preciso ver com o coração...

Imagem daqui

14 novembro, 2011

DA RECIPROCIDADE



Outro dia, frustrada pelo tratamento que recebi de uma pessoa, me queixei com outra de que fulana não era minha amiga. Daí eu ouvi que não se tratava disso, que eu esperava nas minhas relações mais que amizade, eu queria RECIPROCIDADE, mas sem avisar a pessoa disso, e, por isso me frustrava. Puxa, nunca ninguém tinha me falado isso com tanta clareza. Eu já tinha ouvido coisas como “olha, você espera demais das pessoas”; “você faz por alguém e quer que lhe façam o mesmo”, sim, isso tudo é verdade, mas a pessoa com quem eu conversava definiu perfeitamente: Eu espero RECIPROCIDADE nas relações.

E fiquei dias matutando a questão! Fui pesquisar o que é RECIPROCIDADE e encontrei uma definição bem legal aqui ( http://www.infopedia.pt/$reciprocidade ). Vou copiar um trecho que me chamou atenção: “A reciprocidade é a característica do que é recíproco, sendo este tido como aquilo que marca uma troca equivalente entre duas entidades, grupos ou pessoas. O carácter da reciprocidade é o respeito pelo que é mútuo, incluindo a idéia de partilha ou de retribuição. (...) A reciprocidade faz a passagem de algo, de uma pessoa ou grupo, para outra ou outro, sem qualquer carácter de obrigatoriedade, pelo contrário, voluntariamente.”

Pesquisando mais, encontrei um artigo amplo e profundo sobre Dádiva e Reciprocidade, de Eric Saburin aqui http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v23n66/08.pdf em que ele discorre sobre a diferença entre dádiva e reciprocidade. Nesse artigo, o autor esclarece a dádiva – em linhas gerais – como o ato de doação gratuita, já na reciprocidade há um interesse. Um trechinho do artigo que vale a pena ler inteiro: “na antropologia, a reciprocidade foi muitas vezes limitada ao sistema “dádiva/contradádiva”. Depois da contribuição de Mauss, ela foi associada ao conjunto de relações “dar, receber e retribuir”, que corresponde à reciprocidade das dádivas (ou reciprocidade positiva). De fato, o princípio de reciprocidade é mais global e contempla também a reciprocidade negativa (a de vingança) e a reciprocidade simétrica. Neste sentido mais geral, tal conceito pode ser definido como uma relação mútua reversível entre dois sujeitos.”

Bom, o primeiro artigo dizia exatamente o que eu queria ouvir. Que a reciprocidade era a troca equivalente entre as pessoas, sem obrigatoriedade e voluntária. Obviamente, esse entendimento me atendeu porque atendia também as minhas frustrações e angústias. Já o segundo artigo foi um tiro no pé! Ali, o autor descreveu de forma que me convenceu que na reciprocidade existe um interesse e uma obrigatoriedade do dar/receber/retribuir o que, claramente, tira o caráter voluntário da ação! Caramba, então eu espero nas minhas relações uma troca, na mesma medida do que eu dou? Sim... Eu espero. Olhei-me no espelho despida da vergonha dos interesses internos que tenho, e assumi que espero isso sim. Afinal, quem não espera?!

Nas minhas buscas achei uma pessoa que pensa como eu aqui: http://larissyparente.blogspot.com/2011/02/reciprocidade.html Olha só um trechinho do texto bacana dela: “Mas todos nós mais sensatos e realistas queremos sim toda a reciprocidade possível de outras pessoas. Isso pode não encantar à principio, pois é só o que esperamos, mas no dia-a-dia é justamente o que queremos. Desde as primeiras horas do dia, ao levantar e dizermos bom dia, é um bom dia que esperamos como resposta. Cada sorriso dado, é outro que certamente esperemos. Mas isso nem quer dizer que reciprocidade sempre tenha que vir da mesma forma do que se está sentindo ou fazendo... quando estamos em lágrimas, esperamos mesmo um abraço, é toda a reciprocidade esperada em um momento difícil, essa é uma das que mais me encantam e me conquistam; a demonstração de uma verdadeira lealdade. Reciprocidade mesmo, mais observada e mais desejada é a de sentimentos, essa sim é desejada por todos!”

Acredito que a maior parte das pessoas espera reciprocidade nas suas relações, mas não assumem. Pode ser que eu esteja errada. Começo a rever meus conceitos sobre amizade, sobre relações em que se aceita o outro como é, onde não se espera uma troca. Li um texto da minha querida amiga Renata, no Mamíferas (http://www.mamiferas.com/blog/2011/11/a-maternidade-dos-outros.html) em que ela fala da arte das relações em que se aceita as pessoas como elas são, ou gosta ou não gosta, mas não se espera troca! Ai, caramba! Concordo com a Rê, ela é coerente: “E foi então que eu precisei fazer um exercício bastante trabalhoso, mas que tem compensado e me feito aprender bastante: o exercício de aceitar que o outro é isso mesmo – um outro. Que não precisa pensar como eu, para merecer minha amizade, meu carinho, minha consideração. Que para ser amigo, para estar junto, para compartilhar a caminhada, não precisa ser igualzinho, pensar do mesmo jeito para tudo. Precisa ter alguma afinidade, é claro. Mas não precisa fazer tudo igual. Porque amizade, carinho, nada disso é moeda de troca: te dou, se você fizer do jeito que eu quero. Ou a gente gosta, ou a gente não gosta. E se gosta, está do lado, seja como for.”

Então, concordo com a Renata, a amizade não deve ser uma moeda de troca, mas como fazer para não esperar reciprocidade? Não sei... Preciso começar a fazer o exercício trabalhoso de aceitar as pessoas como elas são, e repensar a minha forma de se relacionar com as pessoas...

O fato é que, enquanto não consigo aceitar a maior parte das minhas relações sem esperar a reciprocidade do DAR/RECEBER/RETRIBUIR, me propus um desafio consciente há cerca de duas semanas (digo consciente porque já há algum tempo tenho agido assim sem perceber): tratar as pessoas (sempre que possível) com reciprocidade, ou seja, da mesma forma com que sou tratada. E, nessas duas semanas eu tive algumas surpresas: um tratamento mais carinhoso por parte de algumas pessoas (o que me leva à conclusão de que eu não dava a atenção e carinho devido), e descontentamento de algumas outras.
Engraçado né? Quando eu comecei tratar as pessoas da forma com que me tratam, algumas se irritaram, se afastaram, ficaram nervosas, tristes, frustradas... E outra conclusão: a reciprocidade (como interesse na troca) só vale quando é para o outro! E aí, como fica?

É preciso desarmar o coração e rever os conceitos para que se possa aceitar o outro como ele é, tal como disse a Renata brilhantemente. Por ora, ainda não é possível. Existe a frustração, a tristeza, a raiva e a incompreensão que precisam ser vividas na sua intensidade, para que possam se esgotar, ser compreendidas e esvaziadas. A partir daí, quem sabe eu consigo trocar a reciprocidade por dádiva, que é o dar sem esperar receber, e viver as relações de coração aberto, sabendo que ali está a possibilidade de cada um?

Para concluir, encontrei duas frases de Antoine de Saint-Exupèry no “O Pequeno Príncipe” sobre as quais agora preciso muito pensar para aprender a amar e me relacionar:
“Quando você dá de si mesmo, você recebe mais do que dá.”
“O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca.”

09 novembro, 2011

Das minhas loucuras


Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
... Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sa...be sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

10 junho, 2011

Para tudo que ainda não estiver resolvido em seu coração...





















"É tão novo, tão inexperiente ainda perante as coisas, que desejaria pedir-lhe, o melhor que soubesse, uma grande paciência, para tudo que ainda não estiver resolvido em seu coração.






Esforce-se para amar as suas próprias dúvidas como se cada uma delas forsse um quarto fechado, um livro escrito em língua estrangeira.






Não procure, por enquanto, respostas que não lhe podem ser dadas, porque ainda não saberia pô-las em prática, vivê-las.






E trata-se, precisamente, de viver tudo.






De momento, viva apenas as suas interrogações. Talvez que, simplesmente vivendo-as acabe um dia por penetrar insensivelmente nas respostas."






Rainer Maria Rilke






14 maio, 2011

E vivam as diferenças!



Essa semana foi muito intensa e feliz para mim. Depois de 03 meses, estive em São Paulo por uma semana, encontrei amigas queridas, tivemos conversas leves, outras profundas, e muito deliciosas. Para mim é uma satisfação as conversas sobre a maternidade, a sombra da maternidade, o feminino, o novo feminino... E, no meio disso tudo, o Mamaço – real e virtual, que tomou conta da mídia, do facebook. Você pode saber mais aqui: http://www.blogmamiferas.com.br/2011/05/mamaco-na-midia.html .

Amamento em todo lugar, em qualquer hora. Acompanhando a polêmica, me chamou a atenção as pessoas que não apóiam a idéia, mas o fazem através dos comentários nas notícias de maneira chula e grosseira. Eu queria muito entender a motivação das pessoas que se incomodam com a imagem/exposição de uma mãe amamentando, e por isso, recorri a um grupo de pessoas que considero inteligentes, com argumentos para entender o outro lado.

Ontem tive uma conversa sobre isso, e, para mim foi muito gratificante. Acredito que não existe unanimidade, há muito tempo sei como é viver com escolhas diferentes da grande maioria, e, ao invés de me incomodar, eu gosto de ouvir opiniões diferentes e embasadas. A conversa aconteceu com pessoas que eu admiro e respeito, e, em que pese eu pensar diferente, o papo rolou com muito respeito. Não quero aqui falar das opiniões que ali foram expressas porque não tenho autorização de ninguém de publicá-las e violaria o que eu considero importante: respeito à individualidade. Tampouco quero aqui rebater cada uma das opiniões dadas, porque não seria aqui o local e porque não preciso expor de forma unilateral minhas discordâncias. O que eu quero falar é sobre as diferenças e a importância do debate respeitoso de idéias, algo um tanto inexistente hoje em dia.

Há um tanto de anos, talvez desde que nasci – rs, me sinto diferente do que é comum. Desde a escola, na época da faculdade, sempre fui ativista. Do que? Oras, de qualquer coisa que eu achasse importante defender, divulgar, contestar. Não é pra menos que sou advogada, de natureza contestadora... as minhas diferenças apareceram mais nos últimos anos, com o casamento. Em primeiro lugar, por conseguir com meu marido a guarda dos meus enteados – então com 8 e 11 anos e encampar a idéia de construir uma família diferente, onde a má (!)drasta é na verdade boa-drasta e uma “mãe cover”. Na época não tinha literatura sobre isso, famílias como a minha não eram tão comuns. 13 anos se passaram e esse modelo de relação – felizmente – já não é mais novidade e nem causa estranheza. Que bom mudar conceitos!

Nessa mesma época uma grande mudança: abandonar de vez a alopatia e me render a uma vida de cuidados homeopáticos, para tudo e em todos os sentidos. Foram 10 anos sem nenhum remédio que não fosse homeopático. Ok, no último ano sobrou alguns comprimidos para dor de cabeça, mas de forma consciente de que era uma supressão de sintomas com os quais eu não queria lidar. Me tornar homeopata foi alvo de muita contestação de alguns amigos, da minha família... Ora, como assim “bolinhas” para tudo? É placebo! Não funciona! Sim, para mim, minha família e meus filhos, funciona sim. Poderia citar inúmeras situações, mas não preciso aqui convencer ninguém, aceito minha escolha diferente e vivo bem com ela, obrigada!

Depois, com a maternidade, um mundo de oportunidades novas se abriu na minha vida e me deixou ainda mais diferente da grande maioria da sociedade: parto em casa, amamentação em livre demanda, trabalhar com a filha, amamentar no fórum, carregar bebê no sling, cama compartilhada, empoderamento do feminino, educação alternativa, escola sem paredes, colocar minha filha em escola sem provas e avaliações, escola sem carteiras, escola onde aqui se brinca, ONG de amamentação, ONG de Parto Humanizado, ONG de cinema para mães com bebês, defesa em processos judiciais pelo direito da relação homoafetiva, da mudança de registro civil, alimentação orgânica, terapia junguiana, educação domiciliar, filmes que fazem pensar, livros alternativos, músicas eruditas, escolha detalhada do que meus filhos vão assistir na TV, locais escolhidos a dedo para eles frequentarem... uia! Tanta coisa diferente!

E, nessa forma diferente de viver, encontrei minha essência ao bancar minhas escolhas. De me aceitar como sou. De viver polêmica, mas sem alardear a polêmica. No princípio, eu defendia tudo com unhas e dentes, com voracidade como se precisasse que o mundo vivesse como eu, porque para ser diferente é preciso estar muito bem embasado, com argumentos para debates e respostas prontas para as suas escolhas. Também porque não bastava que eu fosse diferente, eu queria que o mundo fosse como eu. Talvez quisesse companhia das pessoas para não ser só nas minhas diferenças! Claro que, sempre que perguntam, exponho o meu ponto de vista, baseado nas minhas evidências e nas que eu conheço. Mas a minha bandeira, hasteio na minha vida e não precisa ser mais de outra forma!

Hoje, encontro satisfação nas minhas escolhas, sem mais precisar “brigar” para que pensem como eu. E dá sim uma tremenda satisfação quando vejo pipocar na mídia algo que “estranhamente” fazia anos atrás e era tão polêmico, e que hoje já está mais normal.

A Gisele Bunchen teve parto domiciliar.

Adriane Galisteu casou levando seu bebê num sling.

Outras tantas famosas tiveram parto humanizado.

Na contigo aparecem as famosas com seus bebês em slings.

Cláudia Leite usou bomba para extrair LM e continuar amamentando seu filho exclusivamente.

Cinematerna está no Brasil inteiro e saiu até na Caras.

Homeopatia já faz parte do atendimento no SUS.

Alimentos orgânicos são facilmente encontrados nas prateleiras de supermercado.

O grupo “Palavra cantada” é um tremendo sucesso e seus shows são lotados.

Arnaldo Antunes e até o Pato Fu lançaram Cds com músicas inteligentes para crianças.

Erotismo infantil e consumismo na TV começam a ser debatidos.

Parteira é profissão!

Educação democrática faz parte do currículo global.

Carl Jung virou referência.

Educação domiciliar é projeto de lei.

Registrar parto domiciliar é normal e não precisa mais de processo.

União homoafetiva agora é lei!

Ufa, já não sou mais tão diferente e meu mundo agora é mais normal.

E viva as diferenças! E os debates inteligentes.

11 abril, 2011

Se eu não conseguir demonstrar...

Hoje ouvi pela primeira vez uma música do Nando Reis – Pra você guardei o amor, num lindo vídeo de parto da querida Rosana Oshiro (http://youtu.be/VaXVceQhdCo ). Eu parecia um espelho diante da poesia do Nando... Achei as palavras que eu queria dizer, a expressão para o que eu sinto. Fica aqui a poesia... E caso eu não tenha conseguido demonstrar antes, fica registrado o sentimento...
Pra você guardei o amor Que nunca soube dar

O amor que tive E vi sem me deixar Sentir Sem conseguir Provar Sem entregar E repartir.

Pra você guardei O amor que sempre Quis mostrar

O amor Que vive Em mim Vem visitar Sorrir Vem colorir Solar Vem esquentar E permitir.

Quem acolher O que ele Tem e traz

Quem entender O que ele diz No giz do gesto

O jeito, pronto Do piscar dos cílios Que o convite Do silêncio Exibe Em cada olhar.

Guardei Sem ter porque Nem por razão Ou coisa outra Qualquer.

Além De não saber Como fazer Prá ter Um jeito Meu De me mostrar.

Achei Vendo em você E explicação, nenhuma Isso requer.

Se o coração Bater forte E arder No fogo O gelo Vai queimar.

Pra você Guardei O amor Que aprendi Vendo os meus pais

O amor Que tive E recebi

E hoje posso dar Livre e feliz

Céu cheiro e ar Na cor o que Arco iris Risca ao levitar.

Vou nascer De novo Lápis Edificio Tevere Ponte

Desenhar No seu quadril

Meus lábios Beijam Signos Feito Sinos

Trilho A infância Teço o berço Do seu lar.

Guardei sem ter porque Nem por razão Ou coisa Outra qualquer

Além de não Saber como fazer Prá ter um jeito Meu de me mostrar

Achei Vendo em você E explicação, nehuma Isso requer

Se o coração bater forte e arder No fogo o gelo vai queimar.

15 fevereiro, 2011

Bom dia, boa tarde e boa noite!




Como prometido às minhas amigas queridas, mando notícias do mundo de cá. Correria da mudança, arrumação de caixas, adaptação da vida nova... embora com bagunça e cansaço, tem sido muito bom estar nessa nova vida! A casa vazia me fez ver como meu menino engatinha, se desenvolveu velozmente, e adora a vida, ri para as formigas, acha tudo novo, curioso... Uma semana sem TV a cabo me mostrou como é bom olhar a lua, as estrelas, passear pela rua, ver a Sofia correr livre e solta sem maiores temores. Uma semana sem internet me fez ter saudade do mundo virtual, do contato com as amigas queridas que estavam tão perto pelo twitter e facebook, mas me levou a conhecer os vizinhos, conversar sem olhar no relógio, sem ter que interromper para atender ao telefone. Uma semana sem empregada me fez perceber o quanto tenho uma pessoa firme e valorosa na minha vida, uma mulher que vi menina e que me escolheu no coração e eu a escolhi para trilharmos o caminho de mãe e filha, de amigas, daquelas que estão no seu lado segurando a mão para o que der e vier. Uma semana sem telefone e alguns dias sem ver o marido me fez ter saudade e saber o quanto é bom ter um amor, sentir o coração bater forte no peito quando está na hora dele chegar, as pernas ficarem bambas como um adolescente quando se houve perto o barulho do carro, e correr para beijá-lo sentindo-se inteira e forte naquele abraço.


Bom, a vida aqui é muito legal, pelo menos por enquanto. Moro num condomínio de casas onde não se tem portão, tem bastante verde, muitas pessoas com cachorros mas não tem sujeira na rua, latidos irritantes de noite. Para dormir, um silêncio e uma brisa. Os moradores daqui, em sua maioria, são tremendamente simpáticos, dão bom dia, boa tarde e boa noite. As crianças correm soltas na rua, andam de bicicletas sem medo de serem atropeladas, caminhar de noite é quase um exercício irresistível. Uma churrasqueira em casa torna inevitável fazer churrasco (já foram 03, rs), o clube aqui dentro a um quarteirão e meio de casa nos leva a passar uma tarde na piscina, ver a menina sorrir e ainda fazer bolo de chocolate e pão de queijo para o lanche. Sim, eu cozinho sim... E agora tenho vontade. Além disso, ajudo no almoço, arrumo a casa, passo roupas. Parecem férias. Ué, mas eu não vim a trabalho? Sim, ainda trabalho! Nossa, onde estava meu pique todo? O que me faltava para ter ânimo e disposição para tanto fazer? Faltava leveza, impressão de vida feliz, faltava um pouco de "comercial de margarina" na minha vida. Meu marido, desconfiado e prevenido, diz que essa vida parece o "Show de Truman"...


De qualquer forma, sorrio daqui desejando: Bom dia, boa tarde e boa noite!

06 fevereiro, 2011

Só pra lembrar de como a vida deve ser...



Hoje eu quero a rua cheia de sorrisos francos
De rostos serenos, de palavras soltas
Eu quero a rua toda parecendo louca
Com gente gritando e se abraçando ao sol
Hoje eu quero ver a bola da criança livre
Quero ver os sonhos todos nas janelas
Quero ver vocês andando por aí
Hoje eu vou pedir desculpas pelo que eu não disse
Eu até desculpo o que você falou
Eu quero ver meu coração no seu sorriso
E no olho da tarde a primeira luz
Hoje eu quero que os boêmios gritem bem mais alto
Eu quero um carnaval no engarrafamento
E que dez mil estrelas vão riscando o céu
Buscando a sua casa no amanhecer
Hoje eu vou fazer barulho pela madrugada
Rasgar a noite escura como um lampião
Eu vou fazer seresta na sua calçada
Eu vou fazer misérias no seu coração
Hoje eu quero que os poetas dancem pela rua
Pra escrever a música sem pretensão
Eu quero que as buzinas toquem flauta-doce
E que triunfe a força da imaginação

Osvaldo Montenegro - http://youtu.be/Hf0epARAFJ8

29 janeiro, 2011

Obrigada, minhas amigas por tanto amor!



Às vezes eu reclamo demais da vida. E felizmente, em alguns momentos me dou conta do quanto pouco tenho para me queixar... Hoje uma amiga amada e querida fez para mim um post de despedida, de boa sorte, de saudade, de alegria e de tristeza. Ela publicou no blog dela, daqueles que eu leio todo dia e que já lia admirada antes de fazer parte da lista de amigos dessa mulher linda... textos que tantas vezes diziam de mim, e que uma vez conseguiu traduzir o mais profundo que eu queria falar num momento crucial e importante (utilizado com a devida autorização e fonte, claro!). Nossa, como eu queria ser amiga dela. Eu vibrava cada vez que aquela mulher respondia um scrap meu no Orkut, comentava um comentário, sorria quando me encontrava. E hoje ela escreveu e publicou um lindo post pra mim (http://bichosoltoblog.wordpress.com/2011/01/28/mande-noticias-do-mundo-de-la/ ). Não tenho do que me queixar. Construí nos últimos anos uma lista de lindas amigas. Aliás, eu não posso dizer que a vida não me trouxe amigos, seria injusto com a natureza. Partilho de bons amigos ao longo da minha vida, amigas com quem vivi ainda menina e que hoje nossas filhas brincam e se conhecem, amizade mantida e cultivada mesmo com mais de 15 anos de distância e quase 1.500 kilômetros, cultivadas através de longas cartas quando ainda não existia a mensagem instantânea e o telefone era coisa de poucos; amigas de cursinho que ainda hoje nos falamos e que nossas filhas brincam, amigos amados da época da faculdade, padrinhos do meu casamento que, apesar dos poucos encontros físicos, sei que estão aí para o que der e vier sempre (assim como estou pra eles), amigos de trabalhos antigos, amigos do trabalho novo, amiga que vira sócia, amigos que viram irmãos...

Hoje eu preciso falar dessas amizades cultivadas na minha vida nos últimos anos. Algumas pessoas não acreditam na relação virtual. Eu acredito. Faço parte de um grupo de mulheres que se encontrou na internet para falar do parto normal, do direito de um nascimento digno e humanizado, de como amamentar. E esse grupo se tornou íntimo. E falavam de gestar, parir, amamentar. E um dia quiseram falar de seus relacionamentos tb, e do que era difícil nele. E, para não falar de problemas com quem esperava a alegria de um filho, foram para um espaço virtual mais reservado. E ali falaram de tudo! Falaram de seus desejos, de seus anseios, de seus medos, de seus sonhos, de seus traumas, de voar, de fincar o pé no chão, de se prender, de se libertar... E o espaço virtual se tornou tão pequeno que essas mulheres precisaram se encontrar, e quando se encontraram já eram amigas. E os laços se fortaleceram. E essas mulheres se deram as mãos segurando umas às outras, ajudaram financeiramente quando algumas precisaram, mas ajudaram todos os dias, sem preconceitos, todas aquelas que pediram socorro. E abraçaram todas aquelas que se sentiam só. E voaram com aquelas que alçaram vôo. E se deprimiram quando uma se deprimia, para se solidarizar e levantar junto. E caíram quando uma caiu, só para ficar de pé ao seu lado. E cresceram, todas elas. E hoje fazem parte da vida uma da outra.

Às vezes umas ou outras não conseguem escrever sempre, mas estão ali. Às vezes umas ou outras não podem ir aos encontros, mas estão presentes na alma. Encontros regados de vontade de abraçar o que conhece através da tela do computador, com crianças correndo pela casa, pelo parque. Com boa comiida para nutrir o corpo enquanto os sorrisos e abraços nutrem a alma de amor, encontros que mostram o quanto a vida é boa, é cheia de vida, é vida e vida.

Essas mulheres me acompanharam nos últimos anos, desde o nascimento da Sofia quando nasceu em mim uma nova mulher. Quando pude despertar a minha alma. Essas mulheres conheceram minhas entranhas, minhas estranhas dúvidas, minhas fraquezas, minhas fortalezas. Partilharam meus tombos e meu sucesso. Me afagaram concordando e discordando. E hoje tenho grandes amigas.

Em 1987 me mudei de cidade, de Barra do Garças para São Paulo, uma despedida doída, triste. Mas meus amigos permanecem comigo até hoje, 24 anos depois, e nos falamos por Orkut, por telefone, pessoalmente... Agora a vida me brindou com novos vôos. Estou me mudando depois de tantos anos aprendendo a amar São Paulo, as pessoas daqui, toda essa urbanidade quente e acolhedora. Vou em razão do trabalho arriscar novos ares, novo mundo. Paulínia é pertinho daqui, amigas lindas e queridas me esperam lá e em Barão Geraldo para mais uma etapa de mim, mas amigos também ficam aqui. E hoje eu sinto alegria por ir, e tristeza por deixar esse lugar.

Então, minha querida amiga Rê, eu sei que você está aqui. Sei que minhas amigas da lista também continuam aqui. E com vocês eu conto da mesma forma de sempre, sabendo que posso vir correr quando o mundo ficar difícil para tornar o gigante um pequeno, venho correr até vocês para chorar de tristeza, para chorar de alegria. Para dividir o medo, para dividir o sucesso. Porque, amigos de verdade, como bem disse minha querida, dividem tudo, e estão sempre um do lado do outro. E eu também estarei lá. Para vocês conhecerem minha casa, meu novo mundo, e para nos encontrarmos com as crias, a boa comida, o sorriso, a roda de violão. E, quando a saudade apertar que a gente não agüentar no coração, temos o facebook, o skype, os e-mails que disfarçam o abraço apertado que não é possível dar com 105km de distância.

Minha amiga, obrigada pelo carinho, obrigada pelo amor. Minhas amigas queridas, obrigada por estarem ao meu lado, obrigada por caminharem comigo, e por fazerem o meu mundo um lugar muito bom a se viver. Mandarei notícias do mundo de lá sempre, e, como vocês estão no meu coração, saibam que estarão comigo lá e eu aqui com vocês. Porque amizade sincera não acaba, ela floresce e multiplica...

Amo vocês! Um beijo no coração.

Ana K