14 maio, 2011

E vivam as diferenças!



Essa semana foi muito intensa e feliz para mim. Depois de 03 meses, estive em São Paulo por uma semana, encontrei amigas queridas, tivemos conversas leves, outras profundas, e muito deliciosas. Para mim é uma satisfação as conversas sobre a maternidade, a sombra da maternidade, o feminino, o novo feminino... E, no meio disso tudo, o Mamaço – real e virtual, que tomou conta da mídia, do facebook. Você pode saber mais aqui: http://www.blogmamiferas.com.br/2011/05/mamaco-na-midia.html .

Amamento em todo lugar, em qualquer hora. Acompanhando a polêmica, me chamou a atenção as pessoas que não apóiam a idéia, mas o fazem através dos comentários nas notícias de maneira chula e grosseira. Eu queria muito entender a motivação das pessoas que se incomodam com a imagem/exposição de uma mãe amamentando, e por isso, recorri a um grupo de pessoas que considero inteligentes, com argumentos para entender o outro lado.

Ontem tive uma conversa sobre isso, e, para mim foi muito gratificante. Acredito que não existe unanimidade, há muito tempo sei como é viver com escolhas diferentes da grande maioria, e, ao invés de me incomodar, eu gosto de ouvir opiniões diferentes e embasadas. A conversa aconteceu com pessoas que eu admiro e respeito, e, em que pese eu pensar diferente, o papo rolou com muito respeito. Não quero aqui falar das opiniões que ali foram expressas porque não tenho autorização de ninguém de publicá-las e violaria o que eu considero importante: respeito à individualidade. Tampouco quero aqui rebater cada uma das opiniões dadas, porque não seria aqui o local e porque não preciso expor de forma unilateral minhas discordâncias. O que eu quero falar é sobre as diferenças e a importância do debate respeitoso de idéias, algo um tanto inexistente hoje em dia.

Há um tanto de anos, talvez desde que nasci – rs, me sinto diferente do que é comum. Desde a escola, na época da faculdade, sempre fui ativista. Do que? Oras, de qualquer coisa que eu achasse importante defender, divulgar, contestar. Não é pra menos que sou advogada, de natureza contestadora... as minhas diferenças apareceram mais nos últimos anos, com o casamento. Em primeiro lugar, por conseguir com meu marido a guarda dos meus enteados – então com 8 e 11 anos e encampar a idéia de construir uma família diferente, onde a má (!)drasta é na verdade boa-drasta e uma “mãe cover”. Na época não tinha literatura sobre isso, famílias como a minha não eram tão comuns. 13 anos se passaram e esse modelo de relação – felizmente – já não é mais novidade e nem causa estranheza. Que bom mudar conceitos!

Nessa mesma época uma grande mudança: abandonar de vez a alopatia e me render a uma vida de cuidados homeopáticos, para tudo e em todos os sentidos. Foram 10 anos sem nenhum remédio que não fosse homeopático. Ok, no último ano sobrou alguns comprimidos para dor de cabeça, mas de forma consciente de que era uma supressão de sintomas com os quais eu não queria lidar. Me tornar homeopata foi alvo de muita contestação de alguns amigos, da minha família... Ora, como assim “bolinhas” para tudo? É placebo! Não funciona! Sim, para mim, minha família e meus filhos, funciona sim. Poderia citar inúmeras situações, mas não preciso aqui convencer ninguém, aceito minha escolha diferente e vivo bem com ela, obrigada!

Depois, com a maternidade, um mundo de oportunidades novas se abriu na minha vida e me deixou ainda mais diferente da grande maioria da sociedade: parto em casa, amamentação em livre demanda, trabalhar com a filha, amamentar no fórum, carregar bebê no sling, cama compartilhada, empoderamento do feminino, educação alternativa, escola sem paredes, colocar minha filha em escola sem provas e avaliações, escola sem carteiras, escola onde aqui se brinca, ONG de amamentação, ONG de Parto Humanizado, ONG de cinema para mães com bebês, defesa em processos judiciais pelo direito da relação homoafetiva, da mudança de registro civil, alimentação orgânica, terapia junguiana, educação domiciliar, filmes que fazem pensar, livros alternativos, músicas eruditas, escolha detalhada do que meus filhos vão assistir na TV, locais escolhidos a dedo para eles frequentarem... uia! Tanta coisa diferente!

E, nessa forma diferente de viver, encontrei minha essência ao bancar minhas escolhas. De me aceitar como sou. De viver polêmica, mas sem alardear a polêmica. No princípio, eu defendia tudo com unhas e dentes, com voracidade como se precisasse que o mundo vivesse como eu, porque para ser diferente é preciso estar muito bem embasado, com argumentos para debates e respostas prontas para as suas escolhas. Também porque não bastava que eu fosse diferente, eu queria que o mundo fosse como eu. Talvez quisesse companhia das pessoas para não ser só nas minhas diferenças! Claro que, sempre que perguntam, exponho o meu ponto de vista, baseado nas minhas evidências e nas que eu conheço. Mas a minha bandeira, hasteio na minha vida e não precisa ser mais de outra forma!

Hoje, encontro satisfação nas minhas escolhas, sem mais precisar “brigar” para que pensem como eu. E dá sim uma tremenda satisfação quando vejo pipocar na mídia algo que “estranhamente” fazia anos atrás e era tão polêmico, e que hoje já está mais normal.

A Gisele Bunchen teve parto domiciliar.

Adriane Galisteu casou levando seu bebê num sling.

Outras tantas famosas tiveram parto humanizado.

Na contigo aparecem as famosas com seus bebês em slings.

Cláudia Leite usou bomba para extrair LM e continuar amamentando seu filho exclusivamente.

Cinematerna está no Brasil inteiro e saiu até na Caras.

Homeopatia já faz parte do atendimento no SUS.

Alimentos orgânicos são facilmente encontrados nas prateleiras de supermercado.

O grupo “Palavra cantada” é um tremendo sucesso e seus shows são lotados.

Arnaldo Antunes e até o Pato Fu lançaram Cds com músicas inteligentes para crianças.

Erotismo infantil e consumismo na TV começam a ser debatidos.

Parteira é profissão!

Educação democrática faz parte do currículo global.

Carl Jung virou referência.

Educação domiciliar é projeto de lei.

Registrar parto domiciliar é normal e não precisa mais de processo.

União homoafetiva agora é lei!

Ufa, já não sou mais tão diferente e meu mundo agora é mais normal.

E viva as diferenças! E os debates inteligentes.