23 agosto, 2007

AS DIVINAS TETAS


Quando engravidei nunca tinha ouvido falar sobre livre demanda. Achava que bebê tinha que ter horário para mamar, dormir, acordar, e bradava que minha filha dormiria sempre no quarto dela, desde o primeiro dia de vida. Uma amiga minha falou que meu pensamento mudaria. Mudou, e muito!!
Grávida, entrei para a lista da materna e ouvi pela primeira vez o termo livre demanda. Foi num e-mail da Analy, e achei a idéia interessante, mas confesso que achava esquisita a idéia de não ter “disciplina” para amamentar. Quando a Sofia nasceu, a Vilma me ensinou carinhosamente sobre a livre demanda, me disse também que, no início, seria mais fácil minha filha ficar comigo na minha cama, para a Sofia e para mim, que não teria que levantar toda hora já que eu ia amamentá-la em livre demanda.
Pensei muito no que este termo queria dizer, e me convenci da idéia de que a gente aprende sobre a vida aos poucos, e logicamente assim também seria pra minha filha. Eu não tenho horários rígidos para me alimentar, tomo café da manhã quando acordo. Almoço quando sinto fome. Sempre belisco alguma coisa de tarde. Janto às vezes ás 18h, ou às 20h ou às 22h, então porque é que minha filha tinha que ser disciplinada em horários que me atendesse ou às convicções médicas de hoje desde tão pequena?
Aí, percebi que era um gesto de amor e respeito à Sofia amamentá-la em livre demanda e vou explicar porque: cada ser humano tem seu jeito, seu relógio biológico, então, se quero criar um ser humano livre deveria começar por aí, respeitando a fome dela.
Logo nos primeiros dias, percebi que, além da fome, minha filha queria sugar, queria aconchego, queria ficar comigo... Decidi não dar chupeta porque acredito que seria enganá-la desde cedo! Além do mais, todos os instantes de vida da Sofia foram ligados a mim pelo cordão umbilical, então eu não aceitava no meu coração apartá-la brutalmente impondo horários para ela estar junto de mim. Acreditava, e ainda acredito, que a segurança dela vai acontecer aos poucos. Ora, ainda adulta tenho medos tão infantis (como de escuro, ou ficar só às vezes), o que pensaria a Sofia que está descobrindo o mundo agora? Porque exigir dela uma maturidade incompatível com a idade dela? Porque impor padrões de horários?
Cada ser humano tem uma altura, uma cor, um cheiro, um peso... Também um bebê tem seu ritmo, e, ao se sentir seguro vai estabelecer sua rotina.
Acontece que, como a maioria das mulheres de hoje, tive que voltar a trabalhar, e logo! Voltei a trabalhar no dia que a Sofia nasceu.
Fazia petições com ela grudada no peito no computador. Com 15 dias de vida, ela já tinha ido ao Fórum duas vezes comigo (no sling e mamando o tempo todo), e, com 20 dias, me acompanhou em uma audiência.
Mas, por vezes, o assunto da audiência era um pouco pesado e não a queria naquele ambiente tenso. Por isso, desde quando a Sofia fez uma semana de vida, comecei a tirar leite e estocar. No início, era uma tortura: tirava 20, 30 e no máximo 40ml por vez. Mas tirava várias vezes ao dia (com uma bombinha que a Raquel me emprestou, até que consegui alugar a Medela), e acordava de madrugada para tirar leite. Bebia água, muita água. E pensava muito na minha filha quando tirava o líquido sagrado.
A primeira vez que me ausentei e não a levei ela tinha 15 dias, e mamou o leite que deixei no copinho. E ela gostou!!! Não recusou e reconheceu o meu leite. A Dona Cida, o anjo que me ajuda a cuidar da minha filha, nunca deu mamadeira para nenhum dos seus 06 filhos, doava leite e dava leite pra eles no copinho. Então, foi fácil. E, até hoje, a Sofia nunca usou uma mamadeira na vida, e nem chupeta.
Eu nunca tive estoque de leite porque a amamentei exclusivamente até os 06 meses, dava leite em livre demanda. Quando eu saía, era para dar leite a hora que ela quisesse. Livre demanda no copinho também! Por isso, eu tirava hoje o leite de amanhã! Por raras vezes eu tive potinho no congelador por mais de um dia. E sempre fiz assim.
Quando eu podia, levava a Sofia no sling comigo: de carro, de trem, metrô, ônibus... da forma que fosse, ela estava lá: firme e forte no sling, acordava, mamava e dormia!
Nunca passei nenhum constrangimento em amamentar minha filha em livre demanda e nem em público. E era muito mais prático: não precisava de mamadeira, esquentar leite, potes com pozinho, esterilizar (a não ser os potes da bomba medela). Sou ferrenha defensora dos direitos da mulher de ter um sling e seu filho consigo.
E no meio da noite era muito fácil: no calor dormia sem blusa, ela se encostava a mim, mamava e dali a pouco, estávamos nós duas dormindo. Meu marido relatou que, por diversas vezes, acordou e me viu dormindo com a Sofia mamando. E eu nem sentia.
Hoje, a Sofia está com quase 10 meses. Almoça, janta, come fruta, toma suco, e mama. Mama muito, a hora que ela quer!!! Quando ela não está comigo, continua tomando o leite que eu tiro e no copinho (sem bico), mas toma 02 vezes no dia. Depois, quando fico com ela depois das 17h, ela mama, brinca, mama, come, mama, brinca, cochila, brinca, mama e dorme. Se ela está bem (sem dentes nascendo, sem gripe) acorda por volta da 01h da manhã, mama 15 minutos e volta pro berço (grudado na minha cama). Acorda por volta das 06h e vai pra cama, onde fica mamando e brincando até 08:30 – 09:00h quando a Cida chega, e a gente se aparta um pouquinho e vou trabalhar.
Nos finais de semana ela mama mais, até porque está comigo direto. Mas, se fica com minha mãe, ou com meu marido, ou meus enteados, fica muito bem. Às vezes nem quer leite...
Eu trabalhei até o dia 03/08 por volta das 22h, já com bolsa rompida. A Sofia nasceu às 03:57h, e por volta das 10:30h da manhã eu já estava fazendo um prazo. Não acho isso adequado, gostaria de não ter precisado correr tanto, poder ficar com ela pelo menos 03 meses exclusivamente, mas minha vida não aconteceu assim... Talvez para o próximo filho.
Mas, mesmo assim, sempre mantive a livre demanda, e não há quem me faça abrir mão disso. Vou amamentar a Sofia em livre demanda até o dia que ela quiser, e tenho certeza que isso a fará um ser humano mais seguro.
Minha filha é ativa, bastante independente, alegre, brincalhona, e acredito que isso é assim porque os tempos dela são respeitados. Ela vai construir a vida dela segura porque é livre, e não tem pressa, não tem formatação.
Costumo brincar que a Sofia é feliz porque só toma leite de vaca feliz... E ela só toma meu leite, rs... A vaca das divinas tetas!!!

Um comentário:

ana b. disse...

linndaaaa! Vc sabe!!!
bjs